Porque Demolidor (2003) é incompreendido e inovador

4/15/2017 Isabela Bracher 1 Comments

E aí, Chuchus! Sim, esse é o meu primeiro post desde o Oscar. “Por que?”, me pergunta ninguém. Bom, porque eu não consegui pensar em nada interessante pra postar. Não que isso fosse realmente necessário pra eu postar alguma coisa, mas enfim.
E por que eu resolvi postar agora? Bom, é uma história mais ou menos longa, mas que ninguém tá interessado em ler. Em resumo: arrumei um emprego (FINALMENTE!!!!!!!!!!) e começo segunda-feira. O que significa que eu tenho muito tempo pra tentar distrair minha cabeça de coisas realmente importantes. O que significa que esse é o período mais produtivo pra eu escrever sobre coisas que ninguém liga, e ninguém quer saber.
Qual o assunto da vez? Bom, ele tá no título, e não deve fazer sentido mesmo, mas eu explico. Sempre, desde a primeira vez que eu assisti o filme, achei Demolidor (2003) um filme muito foda. Com o passar dos anos e com o avanço do cinema, principalmente dos filmes de super-heróis, Demolidor (2003) foi cada vez mais visto como um fracasso. Mas será que foi mesmo? Então leia minha defesa ao melhor filme de super-herói gótico-suave da primeira metade da década de 2010.



Quero começar falando sobre o contexto de filmes de super-heróis e baseados em HQs no geral. Temos que lembrar que Demolidor (2003) foi lançado em, adivinha, 2003. Nessa época, tínhamos Homem-Aranha, que havia saído no ano anterior, e o primeiro X-men. O filme que mais se aproximava, em estilo, era Blade, que ainda não tinha sido totalmente levado a sério na época (mesmo tendo uma ótima crítica e notas em sites com votação do público). Em 2003 saíram Demolidor (2003), X-men 2, Blade 2 e Hulk. Já era um ano com um número anormal de filmes de super-heróis na época, o que mostra que Demolidor (2003) foi um filme que pegou essa onda bem no começo.
Ainda sobre o contexto, como já falei, o tom de Demolidor (2003) é diferente da maioria dos filmes de super-heróis que saíram naquele período. Mesmo que Blade tenha um tom mais pesado e, literalmente, obscuro, Demolidor (2003) tentou dar, além disso, um tom realista e urbano. Desde o cenário aos próprios diálogos, tudo no filme dava a impressão de querer se passar o mais próximo da realidade de Hell’s Kitchen (que, aliás, é sim um bairro de verdade de Manhattan, assim como o Harlem e vários outros locais muito usados pela Marvel). O efeito também foi feito pelo Christopher Nolan em 2005, em Batman Begins, e depois pelo Zack Snyder em Homem de Aço e Batman vs Superman, mas Demolidor foi um dos precursores desse tom obscuro/adulto/realista/jesus-acende-a-luz.



Também é interessante observar como é a direção do filme. É utilizada a narração, muito comum em filmes policiais noir clássicos. Isso também dá um tom de filme de detetive, muito próximo do clima dos quadrinhos. E claro, temos muitas cenas no tribunal, onde Matt mostra como é um advogado foda, que contrastam muito bem com as cenas de ação, também características das HQs.



E falando nelas, não dá pra falar de um filme de super-heróis e não comparar com a fonte original. Nesse caso, Demolidor (2003) fez um trabalho muito bom na adaptação.
Vários elementos muito importantes nos quadrinhos estão presentes no filme. A religiosidade de Matt, que é extremamente importante para ele, é muito presente no filme, inclusive na cena da luta final que acontece em uma igreja (e que cena, hein!). Há também uma preocupação em mostrar como Matt adapta seu dia-a-dia ao fato de ser cego e ter seus outros sentidos aguçados, como a cama/cofre-com-água, o pequeno detalhe da forma como ele organiza seu dinheiro, e a bengala que compete com o Cinto de Utilidades do Batman.


O uniforme também é muito similar ao dos quadrinhos (o que eu acho que é um ponto positivo em comparação com a série, MAS NÃO VAMOS COMPARAR COM A SÉRIE), e vários quadros do filme fazem ligação direta com quadros das HQs, o que é sempre legal de se ver.




A caracterização dos personagens também foi bem feita. O Mercenário, mesmo não tendo saído bom, pelo menos houve uma tentativa de fazê-lo com o conceito parecido com os quadrinhos. E vamos admitir, ficou melhor do que se fosse simplesmente copiado com o uniforme igual ao das HQs porque MEO DEOS. E também vale a menção de Colin Farrel que MEO DEOS ô homem! (E vou ficar brava pelo resto da vida com o fato de ele ter sido basicamente substituído pelo Jôni Dépi em Animais Fantásticos, OLHA AQUELE HOMEM, COMO CÊIS ME FAZEM ISSO??)

Agradeceremos aqui ao poder das reedições e mudanças de personagens.


Também acho a caracterização do Rei do Crime muito boa. Houve a mudança de um personagem branco para negro (aliás, a primeira no gênero de super-heróis), e ela funcionou muito bem porque o Michael Clarke Duncan preenche todos os requisitos que eu espero de um Rei do Crime: grande, tanto na vertical quanto na horizontal, sem ser necessariamente gordo, forte pra caralho, careca que nem um ovo, tem cara de que é de boa mas vai quebrar seu pescoço porque sim, tá sempre com um charuto na boca, usa um lencinho pra limpar o sangue dazinimigas (e dos guarda-costas) da cara, carrega sempre uma rosa (também pra dar prazinimigas), e parece que consegue reconhecer a 5ª sinfonia de Beethoven na primeira nota.



Ben Affleck também fez uma boa atuação no filme, considerando os considerados (os considerados nesse caso é que o Matt, protagonista do filme, não teve uma caracterização tão legal no roteiro, tendo mais a parte de ação e o alterego de Demolidor mais desenvolvido). Mas Ben Affleck foi, sim, um bom Matt, e ele é, sim um bom ator, e se alguém falar que não é eu vou bater na cara com o meu DVD (mais caro do que devia) de Garota Exemplar. Aliás, vamos falar de Ben Affleck por um parágrafo: QUE HOMEM. Bom ator, que depois ficou ótimo, e ótimo diretor desde o começo da carreira. O cara ganhou um Oscar de melhor roteiro em 1997 e depois de melhor diretor no terceiro filme que dirigiu! E pensar que tinha gente que achava que a carreira dele tava acabada. Pff. Ele ri, olhando pros DOIS Oscars na prateleira, lendo o roteiro de The Batman (que infelizmente ele não vai dirigir... Ainda to triste por causa disso).



E como falar de Demolidor sem falar do Foggy? Que no filme foi caracterizado maravilhosamente e interpretado muito bem pelo John Favrou. Jon Favrou, que foi noivo da Mônica em Friends, deu pra ela um restaurante, e dirigiu os dois primeiros Homem de Ferro, além de interpretar o Happy. Então, sim, é graças ao Foggy de Demolidor (2003) que a Marvel tem agora um Universo Cinematográfico que se expande pela TV. Tudo volta pra Demolidor (2003).



Tivemos Elektra, mas o desenvolvimento dela também não foi tão bom, assim como o do Matt. Mas temos que agradecer o filme por terem juntado Ben Affleck e Jennifer Gardner (e torço pra que tudo dê certo com eles, seja com eles juntos ou separados).



Com toda a caracterização, muito bem feita, temos um roteiro que funciona muito bem. Não falo dos acontecimentos, de falhas, ou buracos que ficaram para trás, mesmo que eu não tenha notado nada disso. Falo dos diálogos mesmo, de como os personagens falam. E nesse caso, o roteiro é engraçado, e as piadas dão certo. Não são forçadas em momentos inoportunos, e também não quebram o clima sério. São piadas realistas, feitas de forma que pessoas normais fariam (se fossem engraçadas). E também dou um pequeno destaque ao showzinho que Matt e Foggy dão no tribunal, usando a cegueira de Matt pra ganhar simpatia do júri, e a quantidade de vezes que falam que “a justiça é cega”.



E claro, a trilha sonora, que junta tudo com um belo laço gótico-suave choro-no-chuveiro-com-lápis-de-olho-escorrendo-pelo-rosto. O que é aquela trilha sonora. Quem decidiu colocar não uma, mas DUAS músicas do Evanescence? Em uma cena de chuva e em uma cena de treinamento? Quem foi o gênio? Cadê o Oscar dele?



E além da trilha, que grita anos 2000, temos também o visual inconfundível, com direito a óculos com lentes coloridas, boinas, calças de cintura-baixa com boca de sino, e um monte de brilhos. Visual mais que icônico que todo mundo queria copiar.



Temos que falar também das cenas de ação, nem um pouco realistas, que levam a ação dos quadrinhos ao extremo. Porque, sinceramente, pra que ter alguém fazendo parkour se a gente pode fazer tudo pelo computador? Como duas pessoas vão, de verdade, se pendurar no cano de um órgão gigante de uma igreja? Ou saltar desse jeito?



E a cena de luta no parque??? O que falar disso???? Imagens valem mais que mil palavras, e essa cena vale mais que toda a obra de Guerra e Paz (dividida em dois livros de aproximadamente 15000 páginas cada).



E como não lembrar de quando Matt dirigiu um carro pra assustar um policial corrupto???? Matt Murdock, o advogado cego, DIRIGINDO.



OU A VEZ EM QUE ELE JOGOU O MERCENÁRIO PELA JANELA DA FUCKING IGREJA!!!



Meus amigos, como pode ter alguém que não gosta desse filme? É uma obra de arte! Não tem nenhum defeito! Não tem possibilidade de dar qualquer nota além de 5 Chuchus!
(Sim, eu vou dar nota, porque esse filme merece!)



Eu entendo que muita gente vai discordar de mim, vai falar que o filme é ruim, mal produzido, com efeitos ultrapassados já na época, que o roteiro não funciona. Eu entendo, mas discordo plenamente. Esse filme, assim como muitos outros, fazem parte da minha formação como gente. Foi um dos filmes que me fez ficar tão interessada em super-heróis (o trono vai ser sempre do desenho animado do Homem Aranha), foi o filme que me fez gostar tanto da Elektra, a personagem que eu sempre escolhia quando jogava Marvel vs Capcom (e também foi o filme que me fez ficar interessada em Ben Affleck, mas eu não vou entrar nesse assunto porque meu pai vai ficar com ciúmes (de verdade)).

Então sim, eu vou defender esse filme até o fim dos meus dias. Assim como eu vou defender Justiceiro (2004), Mulher Gato (2004) e Motoqueiro Fantasma (2007). Nah, to brincando, Motoqueiro Fantasma não tem a menor salvação, aquilo é só ruim, não sei como ainda fizeram uma sequência!! Como tem gente que gosta disso? Não tem nada de bom! E dizem que o problema é Demolidor, pffff. Gente doida.

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Um comentário:

  1. Falou tudo Isabela, esse filme é uma lindeza, não tem como criticar.
    Pra mim vai ser sempre um grande sucesso que não deu certo por "no reason". Aquela cena do Daredevil escrito em fogo é lindeza demais!
    Obs: eu gosto do motoqueiro fantasma mesmo o vilão sendo uma m***, me julgue u_u

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