já vi Doutor Estranho!
E aí, Chuchus!! Sim,
trago hoje mais um post sobre filme de super-herói! Porque isso é mais forte
que eu, e eu não conseguiria não assistir o filme mesmo se tentasse muito. Então
vamos lá!
E antes de
começar, tenho que avisar que esse filme vai ter muitos spoilers, então se
ainda não assistiu o filme é bom nem continuar!
Antes de falar
sobre o filme em si, é preciso falar sobre o elefante branco (piada
intencional) na sala. Houve, e ainda há, uma grande discussão política acerca
da Anciã, interpretada pela Tilda Swinton (mulher incrível, mas vou falar dela
depois).
Nos quadrinhos, o
Ancião é um monge tibetano bem velhinho, que se encaixa perfeitamente no
estereótipo de monge tibetano. Já no filme, o Ancião virou A Anciã, uma monge
celta. “Por que isso é importante?”, você me pergunta. Bom, a simples mudança
de gênero do personagem não é importante porque, realmente, isso não faz
diferença no personagem – e curiosamente foi esse o fato que mais foi comentado
quando saiu a notícia da escalação. O que é importante, nesse caso, é a mudança
de etnia. Quando foi criado, o Ancião se encaixava perfeitamente no estereótipo
de monge tibetano justamente porque esse estereótipo ERA importante para a
história. O fato de ele ser tibetano teve um papel fundamental em toda a
criação do personagem e, assim, na própria magia desse mundo. Seria o mesmo que
contar uma história sobre um brasileiro que viaja para os Estados Unidos
levando o Curupira com ele, mas no filme trocar o brasileiro por um asiático.
Simplesmente, não faz sentido que um asiático tenha contato com um Curupira,
que é um personagem da cultura brasileira, da mesma forma que todo o universo
mágico presente em Doutor Estranho é inspirado na cultura tibetana.
Mas se isso é tão
importante, por que trocaram? Simples, porque atualmente há um conflito entre
China e Tibet, e a China é um dos países onde o cinema norte-americano mais
lucra com bilheteria. Isso é, quando o filme não é proibido por conter algum
conteúdo considerado, pelo governo, como impróprio. Exatamente, não censurado,
PROIBIDO. E com certeza um filme que homenageia, de certa forma, a cultura
tibetana seria proibido na China. E se for pensar bem nisso, tiraram um
personagem tibetano extremamente importante do filme, mas colocaram um dos
santuários na China. Não foi questão de neutralidade, foi realmente questão de
escolher lados em um conflito.
Mas enfim. Agora
que tirei do caminho os aspectos políticos por trás do filme, vamos ao filme
propriamente dito.
Comecemos pela
Tilda Swinton, que foi o catalisador de toda a polêmica do filme. Ela é
incrível, mulherão da porra. A atuação dela foi perfeita, e mesmo que a Anciã seja
diferente do Ancião em vários aspectos, a atuação dela foi perfeita para o
papel.
Temos também
Benedict Cumberbatch, que fisicamente parece ter sido criado em laboratório pra
interpretar o Stephen, e que realmente faz um bom trabalho no filme. Aliás,
todo o elenco é muito bom: Benedict Wong, Chiwetel Ejiofor, Mads Mikkelsen, Rachel
McAdams. O problema é a utilização dos personagens.
Como sempre, o
vilão não é bem desenvolvido e falta muita motivação pra que as ações dele pareçam
legítimas. Todo o personagem se desenvolve em cima desse plano que ele tem de
contatar esse ser sombrio que vai libertar a humanidade do tempo, o que seria
na verdade um ato altruísta, principalmente considerando os argumentos que ele
usa. Mas em nenhum momento conseguimos ver isso. Também não é possível ver um
desejo e poder, nem qualquer outro tipo de motivação. Ele parece na verdade um
capanga que mal sabe dos planos do chefe, mesmo tendo sido ele a orquestrar
todo aquele plano. E ele foi o único “vilão” que teve pelo menos personalidade.
Wong foi somente
funcional, Mordo estava lá pra ser o “amigo” e “professor” pra que nós nos
simpatizássemos com ele antes de ele virar completamente a casaca na segunda
cena pós-créditos, e eu ainda não sei o que a Christine tava fazendo lá. Sério,
ela deve ser a personagem mais inutilizada da Marvel até agora. O personagem
que teve mais desenvolvimento – tirando Stephen, claro – foi a capa.
E um pequeno
detalhe que me incomodou, mas que não necessariamente foi um problema, é que o
Stephen Strange foi menos cuzão do que deveria. Conheço pouco dos quadrinhos,
mas sei que ele ultrapassa os níveis Stark de arrogância, e no filme ele
pareceu bonzinho demais.
Todas essas são
críticas ao roteiro, que não conseguiu desenvolver nenhum personagem direito.
Mas o filme também
tem muitas coisas boas.
Os efeitos
visuais, por exemplo, são – com o perdão da palavra – foda pra caralho. O que
dizem sobre a possibilidade de indicação ao Oscar nessa categoria não são
exagero. Tem muito de A Origem, mas com um toque psicodélico que faz muito
sentido com o filme. Tem também as cenas de projeção corpórea que, mesmo tendo
sido feitas antes de várias formas, pareceu bem original.
O humor do filme,
que já é característica da Marvel, pra mim também pareceu bem dosado, e fez o
filme ficar bem divertido de assistir – que é diferente de ter achado o filme “engraçado”.
Homem-formiga é engraçado, Doutor Estranho é muito divertido.
E outro ponto que
achei muito bom foi o desfecho. Apesar de não ter sido desenvolvido nem um
pouco durante o filme, achei bem interessante a forma como Dormammu apareceu no
fim do filme e como ele foi derrotado.
Vi várias pessoas
comentando que aquilo parecia uma solução simples demais, que Dormammu podia
simplesmente continuar matando Stephen até ele se cansar, ou que podia
simplesmente não matar ele e quebrar ele mesmo o loop. Acontece que não sabemos
quantas vezes ele matou o Stephen, ele poderia ter feito isso milhares de
vezes, cada uma mais dolorosa que a outra, mas Stephen simplesmente não saberia
o que aconteceu quando o loop começasse novamente. Só quem sabe o que
aconteceu, e quantas vezes aconteceu, é o Dormammu. E ele não pode quebrar o
loop porque ele não sabe o que é isso, nem como isso funciona, porque ele nunca
teve contato com tempo.
Pessoalmente achei
isso genial.
E sobre o futuro
de Stephen Strange, acho muito interessante que haja já uma conexão cm os
outros filmes. Só acho que poderia ser mais sutil, como foi com Guardiões da
Galáxia e Thor. Ele já mostrou que é muito poderoso, então vai com certeza ser
muito importante no futuro. Estou aguardando ansiosa por um debate intelectual
entre ele e o Tony.
Colocando então
tudo na balança, considerando de um lado a falta de desenvolvimento dos
personagens e o vilão, e do outro os efeitos, o elenco, o desfecho e o humor,
acho que o filme foi muito bom. Dou 4 chuchus, só pra ficar com nota maior que
a de Esquadrão Suicida. Porque sim, o nível do filme é bem superior, tanto de
roteiro (mesmo que também seja bem falho), quanto de produção. A pós-produção então
nem se compara.