Call Me By Your Name - Me Chame Pelo Seu Nome
E aí, Chuchu! É, eu sei, prometi que postaria semana passada, mas segunda-feira não é tão atrasada assim.
Queria ter postado isso semana
passada pra acompanhar o lançamento do filme, mas demorei pra escrever o post
porque não tinha certeza do que achei quando terminei de assistir o filme.
Depois de muito pensar, muito analisar, muito ler, e depois de assistir o filme
de novo (porque eu precisava muito fazer isso, de verdade), cheguei à conclusão
de que eu amo muito esse filme. Aí demorei por motivos de estava cansada porque
voltei a trabalhar no meio da semana passada.
Mas cá estou. Finalmente. Trazendo pra vocês o post sobre esse filme que mal assisti duas vezes e já considero pacas.
Aviso: se não quiser ler spoilers, recomendo assistir o filme ou ler o livro antes. Não sei por que alguém iria querer ler o post sem ter assistido o filme ou lido o livro, mas é melhor avisar antes pra não ter gente reclamando depois.
Já falei um pouquinho do livro no post de livros de 2017, mas vamos dar uma recapitulada.
O livro/filme conta a história de Elio (Timotheé Chalamet), um adolescente de 17 anos que vive com os pais na Itália. Todo verão, o pai, um professor universitário, recebe um aluno de intercâmbio que mora na casa deles por algumas semanas e o ajuda com algumas coisas da universidade, em troca de uma experiência de imersão na cultura italiana, além da ajuda com a escrita do TCC.
O livro/filme conta a história de Elio (Timotheé Chalamet), um adolescente de 17 anos que vive com os pais na Itália. Todo verão, o pai, um professor universitário, recebe um aluno de intercâmbio que mora na casa deles por algumas semanas e o ajuda com algumas coisas da universidade, em troca de uma experiência de imersão na cultura italiana, além da ajuda com a escrita do TCC.
Naquele ano em particular, o aluno de
intercâmbio é Oliver (Armie Hammer), um americano de 24 anos que está
trabalhando em sua tese de mestrado. Ao contrário de Elio, que é tímido, não
gosta de chamar atenção, passa boa parte de seu tempo lendo e transcrevendo
música, Oliver é conversador, gosta de sair, conhecer outras pessoas.
Elio, no início, não gosta de Oliver,
acha ele arrogante e muito cheio de si. Elio é implicante mesmo, reclamando até
da forma como Oliver fala com as outras pessoas. E Oliver não deixa por menos,
se distancia de Elio e o trata de forma mais fria do que trata o resto da
família e amigos italianos.
Mas isso era tudo fachada. Como o
livro e o filme retratam o ponto de vista do Elio, vemos como pouco a pouco
essa aversão que ele tinha era ciúmes, Elio na verdade mais que gosta de
Oliver. Elio tenta impressionar o hóspede com sua música, seu conhecimento
sobre autores italianos (muito vasto, graças ao pai).
E funciona. Oliver e Elio se tornam
cada vez mais próximos. E quando Elio se declara, esse relacionamento deixa de
ser platônico.
O relacionamento dos dois funciona
porque, mesmo sendo muito diferentes, eles ainda assim são muito parecidos. Um
instiga o outro, intelectualmente. Diversas vezes Oliver se impressiona com o
quanto Elio conhece sobre assuntos que ele mesmo só aprendeu na universidade.
Elio também se impressiona com a confiança que Oliver tem em si mesmo. Oliver
se conhece, sabe do que gosta e do que não gosta. Sabe do que sabe, e quando
pode entrar em uma discussão pra provar seu ponto de vista.
Tudo isso foi transmitido muito bem pelo
Timotheé e pelo Armie. Os dois possuem uma química incrível, que não se
restringe só às cenas mais quentes (mesmo elas tendo sido sim destaque porque MEO
DEOS é sofrível ver héteros fazendo romances LGBT). Elio e Oliver flertando,
usando livros ou música, funciona porque Timotheé e Armie fazem isso de forma
muito natural. Durante a gravação do filme eles se aproximaram muito, e isso
com certeza ajudou muito a desenvolver a relação dos dois no filme.
E dou destaque também ao Timotheé,
que aprendeu a tocar violão e piano para o filme. Em uma cena em particular, um
plano sequência com câmera ampla colocada ao lado do piano, Timotheé toca a
mesma música de 3 formas completamente diferentes. Dá pra ver que é realmente ele
tocando. Quem é Ryan Gosling na fila do piano.
Além disso, pianos a parte, Timotheé
é um ator baita talentoso que dá um baita show no filme, principalmente na cena
da estação e na ultima cena. (Ele deu uma baita escorregada na curva, fazendo o
filme novo do Wood Allen, e depois tentando recuperar a imagem falando que não
sabia das acusações de pedofilia e doando o salário que recebeu pelo filme, mas
não vou julgar.)
A escrita o livro também é algo que
precisa ser notado. Quando comecei a ler, achei a escrita confusa porque não há
nenhuma marcação de tempo. Elio fala em dias, semanas, mas nunca há uma data
específica pra ajudar a se localizar. Mas no meio do livro fica claro que foi
de propósito. O livro tem realmente a intenção de fazer o leitor se perder no
tempo, sem saber a quanto tempo Oliver está lá e quanto tempo eles ainda tem. O
que no começo me deixou perdida, no final me deixou com o coração apertado
porque não sabia quando Oliver e Elio iriam se separar.
Nesse aspecto, a adaptação do filme
foi perfeita. Tudo nele ajudou nesse sentido. Se eu pudesse descrever a
sensação que o filme passa, seria um domingo à tarde, no verão, quando todo
mundo em casa está dormindo e você acaba cochilando no sofá assistindo The
Voice Kids, mas quando acorda já começou o Faustão. (Não que isso tenha
acontecido comigo essa semana, magina).
Em quase todos os momentos do filme
tem sol, e em quase todos os momentos do filme eu sinto calor. A trilha sonora,
bem leve e com 3 músicas muito boas do Sufjan Stevens, é bem relaxante. E eu
ouvi de pessoas que não leram o livro que a edição é ruim, mas eu acho que ela
ajudou muito a passar esse sentimento de estar perdido no tempo que o livro conseguiu
passar tão bem, e que foi tão importante para a história.
Outro ponto muito importante nessa
climatização é a casa. Amei a casa de Elio. É uma casa de verdade, com uma
escada que tem um degrau que range, com uma porta que bate e faz barulho, com
uma geladeira que não fecha direito. É uma casa que parece realmente vivida, onde
as pessoas dormem no sofá, largam livros em pilhas em cima de uma mesa
qualquer, que dá pra ver que tem uma rotina, onde todo mundo fala ao mesmo
tempo. Tudo parece natural dentro dela.
Não tentaram diminuir o som ambiente
em momento nenhum, tanto em cenas internas quanto em cenas externas. Há cenas
externas importantes, onde nós precisamos ouvir o que os personagens estão
dizendo, mas um ônibus para ali perto e os passageiros conversam quando
desembarcam, e da mesma forma como os personagens se aproximam pra poderem se
entender, nós nos aproximamos da tela pra poder ouvir melhor. Dá a sensação de
que nós estamos dentro do filme, dentro da cena.
A adaptação do roteiro também foi muito
boa. Tudo o que era importante no livro permaneceu no filme. Cenas inteiras
foram transcritas, e outras foram modificadas pra que fizesse mais sentido no
filme. Pensamentos do Elio foram colocados em diálogos e informações
importantes foram explícitas para que a audiência não se sentisse perdida em
alguns momentos. A grande mudança foi retirarem Vimini, uma personagem que,
particularmente, eu não achei muito bem escrito, e que não fez falta nenhuma no
filme. A parte mais importante que ela teve no livro foi passado para a mãe de
Elio no filme, o que eu achei muito melhor.
Aliás, os pais do Elio. Que pais são
esses! O pai dele, por ser professor universitário, é um homem muito
inteligente, e muito liberal. É muito claro que ele sabe o que acontece entre
Elio e Oliver, ele acompanha aquilo de perto, e por conhecer os dois, vê como
aquele relacionamento foi importante e significativo para os dois. O melhor
diálogo, tanto do filme quanto do livro, foi entre ele e Elio, logo após a
partida de Oliver para os EUA. Queria tatuar aquele diálogo no meu corpo, mas é
quase um monólogo, e eu não quero parecer um Michael Scofield.
A mãe, no livro, não é muito
presente. Essa foi a adaptação que eu mais gostei: no filme, ela também sabe
sobre o que acontece entre Oliver e Elio, e apesar de não mostrar claramente,
ela atua quase como uma confidente de Oliver. É o papel que Vimini tinha no
livro, e que foi muito bem transferido para a mãe.
Outra personagem muito importante é a
Marzia. No livro, mais do que no filme, fica muito claro que Elio gosta dela.
Na verdade, Elio tem dois amores naquele verão: Oliver, que é aquela paixão
avassaladora, e Marzia, que é aquele amor adolescente e cheio de descobertas.
Elio ama os dois, e em diversos momentos do livro isso fica bem claro. É muito
claro, no livro, que Elio se sente atraído pelos dois, que ele é bissexual, mas
no filme talvez não passe a mesma sensação.
Marzia, por si só, é uma das minhas
personagens favoritas. Ela é compreensiva (mais do que eu seria em alguns
momentos), e dá pra ver que ela também ama muito o Elio, e se sente feliz sendo
sua amiga e estando em sua vida. Em momento nenhum ela demonstra ciúmes de
Oliver, mesmo ela tendo sido colocada de lado diversas vezes. Ela demostra
preocupação porque sabe que Oliver vai embora, e depois quando percebe o quão
desolado Elio está depois da partida. Na verdade, acho que Marzia merece coisa
melhor que Elio.
Uma cena que eu não sentiria falta é
a cena do pêssego. Sei que é uma cena icônica, que todos falam dessa cena,
muitos acham poética, fala muito sobre as mudanças pelas quais Elio passa, mas
pessoalmente acho desnecessária. A cena no livro é mais explicada, entendemos
muito mais sobre o que se passa na cabeça do Elio porque estamos basicamente na
cabeça dele, mas no filme não ficou tão clara. Acho dispensável.
O final foi onde houveram as maiores
mudanças. O livro acaba praticamente no penúltimo capítulo do livro, e pra falar
a verdade eu prefiro assim.
No filme, temos Elio com o coração
partido por saber que Oliver vai se casar. É normal ele ter se sentido daquela
forma, Oliver foi seu grande amor de verão. Ele se sente desolado. Mas ainda
assim podemos presumir que ele vai superar. Vai namorar outras meninas, ou
meninos, e seguir com sua vida.
Já no livro, temos Elio em diversos
momentos de sua vida, até a velhice, sempre pensando em Oliver. Dá a sensação
de que Elio não seguiu em frente com sua vida. E quando ele aparece na
universidade em que Oliver trabalha, e Oliver comenta que seu filho mais velho
tem a idade que Elio tinha naquele verão, aquilo só serviu pra me deixar mais
desconfortável com a situação.
Então acho que a mudança no final foi
uma mudança pra melhor.
O que eu acho sobre as conversas de
uma possível sequência? Acho desnecessário, principalmente porque grande parte
do sucesso do filme foi a química entre Timotheé e Armie, e Timotheé não
participaria da sequência porque não tem a menor possibilidade de ele
interpretar um cara de 50 anos.
E pra acabar com o texto, vou falar
sobre a grande polêmica que cerca o filme.
Não, Oliver não é pedófilo, nem pela
definição da palavra, nem pela legislação italiana. E não, o relacionamento
entre os dois também não é abusivo, e Oliver não possui uma posição de poder
sobre o Elio.
Elio tem 17 anos, e Oliver tem 24.
Parece que ele tem 24? Não, de jeito nenhum, esse foi o maior erro do filme.
Mesmo a química entre os dois sendo incontestável, Armie é sim velho demais pra
ser o Oliver.
MAS, e esse é um MAS em letras
maiúsculas...
De acordo com a legislação italiana,
a idade do consentimento é 14 anos. Ou seja, a partir dos 14 anos, se houver
consentimento do menor, ele pode ter uma relação com um adulto. É certo? Não
acho. E acho muito falho pensar nas coisas dessa forma, que se for legal, em
termos jurídicos, aquela coisa é certa. Mas, partindo desse princípio, nenhuma
lei foi quebrada, e Oliver nunca seria preso por isso.
Moralmente falando, acho que a
relação dos dois é muito equilibrada. Elio é um adolescente muito maduro (mesmo
que eu odeie quando usam esse termo pra falar de adolescentes). Ele sempre
esteve em um ambiente muito intelectual e liberal. Elio sabe de coisas, e tem
liberdade para certas coisas, que a maioria dos adolescentes de 17 anos não
tem. Isso influencia muito no amadurecimento dele. Naquele momento, naquele
verão, Elio e Oliver estão em um nível intelectual e eu diria até de
amadurecimento emocional muito próximo.
Em momento nenhum Oliver tirou
proveito de Elio. Todas, literalmente TODAS as cenas em que eles se beijaram ou
fizeram algo mais, Oliver pediu permissão, ou o ato foi iniciado pelo Elio. Todos.
Sem exceção. Não houve momento nenhum em que Oliver parecesse nem remotamente estar
se aproveitando de Elio.
Existe uma diferença de idade grande?
Acho que sim. Minha opinião pessoal. Mas focar somente nesse fato, e assumir
que o relacionamento não é saudável ou é abusivo só por causa disso ignora
muito do que o livro e filme se preocuparam tanto em passar.
E outra: há muitos filmes em que
personagens da mesma idade possuem relacionamentos completamente abusivos, e
isso não é nem mencionado. Em Lady Bird, filme que saiu ano passado e que
provavelmente vai receber algumas indicações ao Oscar, houve um relacionamento
muito mais abusivo. O personagem do próprio Timotheé mentiu e manipulou a
Christine “Lady Bird” em diversos momentos, e tirou vantagem dela com isso, mas
porque os dois tem a mesma idade, isso não foi discutido por ninguém. Porque é
um relacionamento heterossexual, entre dois adolescentes, então o abuso e a
manipulação são quase aceitos como algo natural.
E mais outra: em Dirty Dancing, Baby
tem 17 anos e Jhonny tem 24. É exatamente a mesma diferença de idade, mas
Jhonny é visivelmente mais “maduro” que Baby, e ele tem uma relação de poder sobre
Baby já que é professor de dança dela. E os pais, que querem impedir o
relacionamento, são vistos como os vilões.
Por que esses dois casos sejam aceitos,
e Call me by your Name foi tão criticado? Eu sei por que. O nome disso é “heteronormatividade”.
Mas enfim. Acabei minha parte “textão
da internet”.
No frigir dos ovos, dou para o livro
nota 8/10 (como já falei no post de livros de 2017).
Para o filme, dou nota 5/5 porque o
post é meu e eu posso. E eu amo esse filme. Com todo o meu coração. De verdade.
Por que minha escala pro livro vai
até 10 e do filme vai até 5? Porque sim. Porque é 21:16 de uma segunda feira.
Porque meu dente do siso tá nascendo e eu to morrendo de dor. Porque nem tudo
no mundo acontece do jeito que a gente quer. Que pena.
Enfim. Esse foi o post. Deixa um
joinha e comenta aqui em baixo suas opiniões sobre o filme e sobre o livro, e compartilha
com os coleguinhas (com os coleguinhas que vão gostar porque eu não sei lidar
com rejeições). Beijos e até a próxima!